sexta-feira, junho 22, 2007

Digressão

Tive um professor memorável na faculdade. Luiz Felipe Pondé, filósofo por profissão, vocação e estilo. Afinal, enquanto divagava sobre assuntos que iam de mitologia grega a marquês de Sade, com uma passadinha pela máfia russa, ele não dispensava seu estiloso cachimbo.
Nunca antes havia conhecido alguém que fumasse cachimbo, além do Saci-Pererê, que eu efetivamente não conheci.
Mas dentre todas as aulas tão estimulantes, uma me marcou em especial: a que incluia uma crítica a Paulo Coelho.

Dissidentes, uni-vos!

Eu detesto Paulo Coelho. Nunca consegui passar da página 20 de qualquer um de seus livros.
Pois eis que neste dia, nesta aula, encontrei uma justificativa coerente: a de que nossa sociedade operária, de classe média, trabalhadora não tem tempo para pensar, para filosofar. E quem pára pra digredir, pira e toma Prozac. É como diria o marido: "já viu pedreiro com depressão?". E nós, pedreiros deste mundo, amamos respostas fáceis.
- Viu aqueles neonazistas punks?
- Veja bem, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
- Não, eu vi no Fantástico, é verdade!

E assim é Paulo Coelho: o mestre dos magos, disposto a acabar com o sofrimento do mundo oferecendo respostas fáceis a quem não tem tempo de se questionar. O mestre da auto-ajuda disfarçada de conto de fadas onde o príncipe é o peregrino de Santiago de Compostela. Mas esta é só a minha opinião, a do Pondé e de outra meia dúzia de gatos pingados.

Mas enfim, chega de filosofia barata. Afinal, burros somos nós que tomamos como verdade absoluta a primeira informação - tendenciosa ou não - que cai em nossas mãos.

Acontece que hoje, pela primeira vez pós idealismo universitário, amei fazer parte dessa massa trabalhadora que não tem tempo para pensar. Hoje, pela primeira vez, descobri que não ter tempo para pensar pode ser uma dádiva.
O que seríamos de nós se parássemos para pensar que passamos pelo menos 50% das nossas vidas trabalhando? Que com cerca de 190 países no mundo, tem sorte quem conhecer mais de dez? Que a gente não vai amamentar nossos filhos tanto quanto poderia ou curtí-los tanto quanto gostaria? Afinal, temos que pensar no pão nosso de cada dia. Tá, foi dramático... No pão com brie nosso de cada dia.
Melhorou?

Que bom é às vezes não ter tempo para filosofar.
Desculpe Pondé!

5 comentários:

Anônimo disse...

Sis, agora que eu estou "anlisando oportunidades", forma chique de dizer desempregada, tenho tido muito tempo para "pensar", e concordo com vc, as vezes nao ter este tempo de pensar é muito bom...
eu to ficando doida!!
bjs

Anônimo disse...

Ai. Fiquei mto confusa agora, Nú.
Pq eu amo vc e amo o Pondé, tb.
Posso pensar sobre isso?

Nurit disse...

Pensa honey... Nem que concorde comigo para um "às vezes"

Unknown disse...

Eu lembro dessa aula tbm!!! Ele comparou Madame Bovary c/ As Valquirias. Nu, essa aula tbm me marcou!

Acho que o Pondé foi o melhor professor que ja tive.

Nurit disse...

Essa mesmo Zim! Foi demais, né?
Bjos,