No dia em que eu vim morar em Porto Alegre, eu quase tive que ir ao hospital tomar soro, de tantas lágrimas que deixei pelo caminho. E as lágrimas persistiram por um longo tempo. Não sei como o santo do meu marido agüentou, mas a verdade é que eu só sonhava com o dia em que ele chegaria em casa dizendo:
- Amor, vamos voltar para São Paulo!
Num destes sonhos, eu acordei com o interfone. Era a transportadora com as 40 caixas de mudança que viriam a ocupar quase toda área útil do meu apartamento e as quais eu, num choque de real life, teria que abrir e lavar completamente sozinha, já que casei no maior estilo "numa casinha de sapê".
E adivinhem? Lavei. Chorando, mas lavei. Destruindo minhas mãos macias e unhas compridas, mas lavei. Não sem depois ligar para a minha mãe, implorando por uma visitinha, que ela, como uma boa ídiche mama, se apressou em fazer. Mas lavei. E também tirei o lixo, varri, arrumei, me virei... e cresci.
Todos diziam que essa angústia passaria, que eu desse tempo ao tempo. E o tempo realmente passou, eu comecei a trabalhar, encontrei referências na cidade e acabei fazendo minha vidinha por aqui.
A verdade é que morar longe me deu a chance de ser eu mesma, de construir a minha vida. E no final, eu acabei conquistando minha independência, minha liberdade a la Sex and the City. Numa versão casada e substituindo New York por Porto Alegre, mas tudo bem, a diferença é sutil.
No entanto, morar longe faz com que uma parte de mim esteja sempre em outro lugar. Ela fica na tristeza quando eu me despeço da minha mãe no aeroporto, sabendo que amanhã eu não poderei almoçar com ela, nem ir no churrasco de final de semana, nem fazer guefilt fish com ela em Pessach. Fica no meu pai, que não me vê na sinagoga, rezando com ele, e com quem eu não posso almoçar nos domingos. Fica na minha irmã do meio, que não me viu aplaudindo na platéia quando ela ganhou o prêmio de melhor aluna da faculdade, ou na minha irmã caçula com quem eu não comemorei quando ganhou seu primeiro carro. Fica na minha família toda, nos pequenos detalhes, no dia a dia que eu deixo de compartilhar.
Mas como diz minha mãe, foram as escolhas que eu fiz e que eu tenho que assumir. Não me arrependo, adoro minha vida e não conseguiria voltar a viver em São Paulo. Por diversos motivos. Mas às vezes essa vida de ponte aérea parte o coração.
sexta-feira, março 30, 2007
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6 comentários:
ponte aérea, é um problema: ainda mais hoje em dia!
mas minha querida, crescer é muito bom e faz parte da vida, pois amanhã vc terá sua familia e terá de ensina-los a crescer.
só saberá fazer isso se tiver esta experiência!
estarei sempre ao seu lado...mmo à distancia..te amo.
Que lindo, Nú. Chorei!
Fofas!
Lindo, Nunu...
Crescer é difícil anyway, estando longe ou perto...
Nossa... to escrevendo e chorando... que manteiga derretida mesmo....
Sis, apesar de vc nao estar la para me aplaudir, sei que ficou feliz por mim....
Só pelo fato de vc ter conseguido tudo o que conseguiu me faz sentir bem com relaçao a isso....
te adimiro muito (vc sabe)....
bjs no coraçao!
Que fofuchca sis! te amo!
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