sexta-feira, novembro 16, 2007

Mulheres lá de casa

Nossa saudosa infância não seria a mesma sem elas, figurantes que por vezes atuaram como protagonistas e de uma forma ou de outra, deixaram sua marquinha registrada em nossas vidas.
E como citei a alfabetização 'nordestês' no post anterior, nada mais justo que explicá-la aqui.

Tudo começou com a Maria, que conforme diz minha mãe, durou pouco por tentar roubar o papel de mãe de bebê Nurit. E não se brinca com uma ídiche mame.
Logo em seguida entrou a Ângela, que merece atenção especial. A Ângela não era simplesmente a babá. Era a babá mais querida e por quem éramos apaixonadas. Quando ela saiu, ficamos tristes, tristes. E ela também, tanto que nomeou sua filha como minha irmã e sua cachorrinha como a nossa. Karina e Trícia.
Daí veio a Rose, louca, que bateu certa vez na Karina e em seguida uma senhora, loira, que também não morria de amores pela irmã. Explico: Karina em outros tempos era o filho que meus pais não tiveram. Capetinha e espoleta (desenterrando palavras).
Então veio ela, a cozinheira típica, que cantava durante o almoço "mais nessa casa teim gotera, pinga ni mim...". Não lembro de seu nome, nem de seu rosto. Mas lembro que ela cantava. E cozinhava.
Numa passagem relâmpago, veio uma figura, que fugiu de casa. Explico: Certo dia ela nos levou ao teatro e ficou combinado que alguém-não-lembro-quem nos buscaria de carro. Como alguém-não-lembro-quem demorou para chegar, ela simplesmente tomou um taxi de volta. Acontece que alguém-não-lembro-quem chegou e não nos viu, ligou para minha mãe que quase sofreu um colapso nervoso e bem... e naquela noite ela fugiu de casa.
Depois desta época meio tumultuada, veio a Cidinha, bem querida, que alegrava nossa tarde com submarinos e bisnaguinhas com requeijão. A cozinheira na época era a Berenice, que me chamava de 'lady Dy' e fazia gemada enquanto assistíamos 'Viva a Noite'.
Quando saiu a Cida, veio a Jô. Irmã a adorava. Na mesma época nasceu a irmã caçula e com ela veio a outra Cida, enfermeira, a quem tínhamos que implorar para pegar bebê Vanessa no colo. Ela era a dona do bebê e opinava sobre todas as roupinhas que minha mãe comprava "Ai, D. Eliana, dessa eu não gostei... vê se a loja aceita troca". Por isso digo que não quero enfermeiras.
Um tempo depois entrou a Raimunda, que vai ganhar um capítulo especial logo, logo. Mas Raimunda saiu para tentar a vida no sul e entrou 'Huhum tá'. 'Huhum tá' era seu apelido pois era a única forma de comunicação utilizada. Ela não tinha muita paciência na nossa "Casa das 4 mulheres" e respondia a tudo com 'Huhum tá'. Ficou pouco. Daí voltou Raimunda. Raimunda não tinha gostado do sul e pediu para voltar. Ela era a pessoa mais mal humorada do planeta e tinha surtos quando eu entrava na cozinha - seu reino - para cozinhar. Acontece que entre altos e baixos Raimunda foi ficando. E fomos nos acostumando ao humor de Raimunda. Hoje Raimunda, há décadas na família, já é prata da casa e até a TPM coincide, tanto que a casa virou 'das 5 mulheres'.
Raimunda indicou babá Zezinha, sua prima. Zezinha era uma figura, mas querida. Saiu por motivo triste, que prefiro não citar. E daí veio Inês, que ficou anos e era o xodó de pequena Vanessa. Até quando pequena Vanessa virou grande Vanessa, chorava sua ausência nas férias. Mas Inês casou e mudou.
Sem mais crianças, o posto de babá foi cortado e assume por vezes Carlota, faxineira que ama trabalhar com D. Eliana. E cuja neta chama-se Nurit (coitada, se o meu já vira Nuriti, esta deve ser 'Lurdes' com certeza).

Mas não acaba por aqui. Tem as da casa da vó. E como casa de vó costuma ser a extensão da nossa, também elas tiveram papel importantíssimo. Primeiro foi a Luzinete. Foi por muito tempo e ela era uma amor. Depois veio a irmã da Dejanira - a Deja - que se não me engano chamava-se Teresinha. E Deja trabalha até hoje, no auge de seus 70 e poucos anos. E ainda desfila no carnaval paulista. Hoje tem também a Nidi e tem a Maria, braços direito e esquerdo na minha vó, cozinheiras de rosquinhas deliciosas e úmidos bolos de laranja, que não faltam toda vez que passo por lá.

Aqui em casa tem a Cleusa, figura de marca maior, que coloca todo mundo no chinelo. Só vendo. Agitada, estabanada e contadora de 'causos'. Além de mandar em mim e no marido, já que mamãe em sua primeira visita ao sul fez a seguinte recomendação: "Cuide bem da minha filhinha".

É mãe, todas cuidaram de suas filhinhas. E aqui fica a minha homenagem a todas elas, que com certeza deram uma pitadinha a mais de sabor em casa. No dia a dia, na culinária e na cultura deste nosso país tão eclético. Ôxi, brigada tchê!

5 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, na minha casa passaram tantas que eu mal lembro os nomes. Era sempre assim, ficava uma por um bom tempo, aí, até achar outra boa, passavam umas vinte!! Qualquer dia falo sobre elas também!
Beijocas

Anônimo disse...

Nurit, FANTÁSTICO!!!!!!
impressionante sua memória, acho que vc não esqueceu de ninguem e nem das caracteristicas de cada uma delas.
PARABÉNS amei.

Anônimo disse...

Sis... não sei como vc se lembra de tudo... minha memoria fica da Jo para a frente!!!
Faltou a casa do vô, que tem a Gilda, que faz uma macarronada que todos amam mas é o mau humor em pessoa! Um ser sem noçao que vira para vc e diz "Nossa, vc ta gorda... tem que emagrecer", mas cuida do meu querido avô, então está desculpada!
Amei seu texto... sensacional.... as always....

Anônimo disse...

Ka, a Gilda não é mau humor,é pura simplicidade sem etiqueta. Mas ela tem uma caracteristica importante: é fiel!

Unknown disse...

Nu... como vc lembra da Luzinete!! Hahahahaha...
Bjo,
MI