Num novo tempo

O MSN é uma ferramenta por vezes estranha. E o comportamento do usuário varia de acordo com a geração.
Eu tenho setenta e seis contatos, dos quais 40% só conversei no dia em que eu adicionei ou "fui adicionada" (a tal linguagem cibernética).
Minha mãe tem dez contatos, 98% familiares.
Minha irmã caçula tem trezentos e cinquenta e oito contatos (às 16:40 do dia vinte e oito de outubro), da amiga de infância ao primo do amigo do vizinho que ela conheceu ontem.

Eu escrevo em português, com pontos, vírgulas e regras gramaticais. Minha mãe idem. Já minha irmã caçula, escreve no que poderia ser denomidado português-que-de-tão-coloquial-beira-o-analfabeto, graciosamente denominado "linguagem jovem".

- Oi Nunu
- Oi Va, tudo bem?
- Td e v?
- Também, tudo ótimo. O que me conta?
- Dexa eu ve (sic). Ce vai fika aí? (sic)
- Que?
- Preciso t conta umas boas novasssss (sic)
- Com tantos "s"?
- Blá, blá, bá... dai eu fleiii.. (sic)
- Bom, nu to indo bjao te amoooo masterrrrrrr (sic, sic, sic)

Eu encontro meus contatos pessoalmente, se moram na mesma cidade que eu e uso o MSN para dar recados ou trocar mensagens rápidas. Minha mãe usa o MSN para falar comigo. Minha irmã caçula usa o MSN para passar a tarde toda conversando freneticamente com quinze pessoas ao mesmo tempo ao invés de sair. Isso porque ela tem que estudar, o que faz em paralelo ao uso do MSN e à TV, cuja tela ela divide com a do computador. Confesso que sinto um leve em enjôo ao usar sua tela "tudo ao mesmo tempo agora" quando estou em São Paulo.

Não há certo, não há errado, mas comecei o texto conferindo estranheza ao MSN pela forma com que ele muda as relações pessoais (isso para não citar as convenções gramaticais). E este é o novo normal. Será que no dia em que tiver filhos vou mandá-los tomar banho ou desligar a televisão por MSN?

- Filho, já escovou os dentes?
- A mae, dexa di sê chta
- Que? Filho, que linguagem é esta?
- Vo escva dpois
- Han?? Não consigo entender o que você escreve.
- Ta, ta. Mae, o q é essa cobrinha em cima do 'a'?